quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Porco e Pimenta : Drosófilas



Drosófilas





- Pobre drosófila, morreu muito cedo, considerando que sua vida só duraria 24 horas, veio morrer na décima-quinta, culpa dos humanos, e seus inseticidas - dizia o padre das moscas, no enterro da drosófila, que por intermédio humano, veio a falecer.

A familia chorava a perda, e os amigos vinham prestar serviços, servir fungos, e coisas do tipo, aperitivos da morte, afinal, a morte não é uma coisa fácil de lhe dar. Era estranho pensar que o padre só tinha mais 6 horas de vida, e que se o enterro demorasse demais, o padre morria e era enterrado junto, assim como todos os familiares mais próximos da morte.

O tempo de uma mosca não é tão longo, comparado ao dos humanos, mas é aproveitável da mesma forma, considerando que poucas horas após nascer, elas ja precisam procriar, são anos e anos de experiencia tomados, como suco, em poucas horas de vida, inteligentes, as drosófilas.

- Alguem quer dar alguma palavrinha? - foi o padre que falou outra vez, seus olhos eram vermelhos e espelhados como os da maioria alí, olhos brancos e pretos são determinados pelo alelo 'y' como todos sabem.

Foi então que o pai da falecida levantou voô d'onde estava, e ao pousar na banana morreu. A familia então começou a chorar mais e mais, e cada vez mais que o segundo passado, o padre recitou de novo um poema fúnebre, e drosófilas coroinhas arrumaram o corpo do novo falecido.

- Onde está a morta? - disse uma drosófila de 16 minutos de vida, numa voz fina porem articulada e audível.

Todos dirigiram os olhos grandes e espelhados para a banana-caixão, e logo depois, para um grupo de formigas que, carregando a morta no colo, corriam pelo mármore.

- Corram! Corram! elas nos perceberam - disse a formiga carnívora

Foi nesse momento que ouviu-se um grito na multidão fúnebre, todas as drosófilas começaram a levantar voô, arregaçando as mangas, prontas para o resgate da falecida, e as formigas sequestradoras começaram a marchar mais rápidamente, tropeçando nas pernas.

- Devolvam-na! que falta de respeito - foram as ultimas palavras de uma drosófila, que logo após caiu morta no chão, algumas outras drosófilas, parentes do novo morto baixaram voô e deram assistencia ao corpo, fez o mesmo o padre, e os coroinhas, que não viam a hora do padre morrer, para serem eleitos padres, afinal, com tantas mortes em tão pouco tempo, ser padre é a profissão mais digna entre as drosófilas.

As formigas, com o corpo da morta nas costas, discutiam entre si que caminho pegar, rodavam em círculos, seguindo o rastro de outras formigas, ja haviam ultrapassado o mármore, e agora estavam na pia de inóx, onde o reflexo do Sol, que entrava pela janela, fazia arder em chamas os olhos das drosófilas, que continuavam a voar, sem parar, e a morrer, sem parar.

- Elas estão próximas, vamos dar cabo dessa mosca aqui mesmo.
- Não temos tempo de come-la aqui, vamos enfrentar essas combatentes, se ganharmos, teremos mais comida.
- Impossível, elas voam rápido demais

A drosófila mais rápida do grupo, chega então próximo as formigas, seus olhos espelhados ardem no contato com a luz refletida e intensificada pelo aço inóx, mas ela toma forças, e diz, na sua voz mais grossa:

- Devolvam-na, Oh! formigas carnívoras, não vale a pena brigar por carne tão escassa, não matará sua fome, devolvam-na, precisamos de um ritual religioso para essa companheira que morreu tão cedo, sem ao menos conceber uma ninhada.
- Terá que pegá-la a força, mosca estúpida! - as formigas então começam a correr novamente, mas se vem de frente à um grande abismo escorregadio, da qual não conseguiriam escalar sem deixar a rapitada falecida cair.- Oh! É o nosso fim.

Então o céu se viu lotado de drosófilas, todas voavam, como que em câmera lenta, seus olhos vidrados nas três formigas carnívoras, essas se viam precionadas a pular.

- Jogarei a falecida!
- Mataremos-na!
- Após jogar poderemos escalar e nos salvar, não é companheiras? ...companheiras? - Olhando para os lados, a formiga que carregava a falecida se via sozinha, suas companheiras formigas haviam abandonado-a à pouco, e escalado o abismo em direção à um buraco no azuleijo, que às servia de formigueiro.
- Está sozinha, formiga, devolva a fale... - foi nesse momento que o líder morreu, e os parentes, os coroinhas, e um novo padre (pois o antigo morreu ao socorrer uma drosófila numa poça d'água) vieram prestar apoio.

As drosófilas foram tomadas por um novo líder, que meio sem jeito continuou o que achava que o antigo falaria:

- Cida!
- Cida? - disse a formiga
- Não seja idiota, aqui não tem nenhuma Cida, as drosófilas são chamas por números. Não é povo?
- Éééééh! - todas as drosófilas gritavam ao mesmo tempo levantando as mãozinhas.
- Não! Eu digo... Cida?... Cida o que?
- Oh! Fale-cida.

Formiga e Drosófila começaram a rir compulsivamente, e num descuido da formiga, a falecida caiu do abismo. Feito flechas numa guerra, as drosófilas começaram à voar em direção ao abismo, em formação de guerra, com excessão do líder, que agora ria tremendo no chão, enquanto era devorado pela formiga que parara de rir à um bom tempo.

Todas as drosófilas estendiam as mãos em direção da falecida, e algumas faleceram de hipertensão nessa hora, a imagem era coisa de filme, feito tres mil Harry Potter's em quase-alcance do pomo-de-ouro numa partida de quadribol.

A drosófila mais ousada tocou a perninha da falecida e a de traz tocou a perninha da mais ousada, e por assim foi, até chegar na ultima, numa grande corrente, todas se puxaram e começaram a gritar e a voar loucamente pelo céu, dando vivas e mais vivas no ar, voltando à banana-palanque para terminar o enterro. No momento do quase-enterro, ouve-se uma voz de dentro do caixão-banana.

- Oi? - era a falecida
- Mas... - coletivo
- Ah! porque estou sendo enterrada, estava tirando um cochilo.
- Essa não, nem vem, perdeu, esse enterro sai hoje - disse o padre com muita raiva momentos antes de comer a cabeça da passada-atual-falecida e ser honrado com aplausos, 'bravo', e uma medalha de honra ao mérito.

Nunca tente entender as drosófilas*.



[ esse texto é meu e quem copiar e ganhar muito dinheiro, é bobo e sem criatividade ]


Vocabulário:

* Drosófilas : moscas de banana

Um comentário:

Natália Albertini disse...

Mas que fábula fabulosa!
E adorei as adaptações de nome como 'banana-palanque' e 'banana-caixão'.
Só você mesmo pra criar essas coisas.
Acho que melhor que imaginação fértil só sexo,chocolate e água!