terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Porco e Pimenta: Terminal


terminal

Parou no terminal, mais uma ligação
- estou do outro lado da rua, você está de cinza?

- sim, eu estou confuso.

- estou te vendo, atravessa, depois dos guardas, das barracas, estou no carro prata.

Caminhou apressado, pensando em assunto, pensando em como cumprimentar, pensando muito, perdido nos pensamentos atravessou a avenida correndo, e quando percebeu que o outro havia saido do carro, diminuiu a velocidade pra não parecer tão interessado.

Se cumprimentam, um de cada lado do carro, e entram nele, agora se cumprimentam direito, um abraçado desconfortavel, um em cada banco do carro prata, as portas se fecham, ambos encabulados, dirigindo pela cidade, ao som de CD's que saem de um porta-cd mais organizado do que o necessario e vão para o rádio, conversam com pausas longas e tão desconfortáveis quanto o primeiro abraço.

- sua voz é diferente no telefone e ao vivo

- a sua tambem

pausa longa.
- você não está perdido né?

- imagina.

pausa longa.

- você tem duas opções de passeio, uma ao ar livre, uma em local fechado, escolha.
- mas assim, sem mais informações?
- é

- ar livre, mesmo que o tempo não pareça estar contribuindo.

- ar livre então, feito.

Dirigem ao tal lugar 'ar livre', é um parque, saem do carro, agora as conversas ja parecem fluir melhor, ambos carregam mochilas cheias de surpresas, depois de andar um bocado, desviando de ciclistas, corredores e casais com cachorros, compram um suco de uva, sentam na grama.

- a idéia que eu tive ao ar livre, era de fazer um piquenique - tira uma toalha da bolsa, uma sacola com barras nutritivas de amostra gratis, o suco de uva.

Estava gostando do passeio, e da companhia tambem, comia as barras nutritivas, e numa conversa sobre musica, desenhava num caderno, falava baixo. Filmava o outro desenhando. Por alguma razão desconhecida, o piquenique acabou com ambos rolando na lama do parque, vendo quem conseguia derrugar quem, ja eram intimos nesse momento, a calça de um acaba inteira suja, o outro por incrivel que pareça, mesmo com trinta minutos de luta na lama, permanece tão limpo quanto estava ao chegar, um pede a calça do outro, alias pretendia sair naquela noite, iria a uma cafeteria e a uma discoteca, comemorar o aniversário. Não iria emprestar a calça jeans num primeiro encontro, o que a mãe iria pensar, de jeito nenhum.

Correm o parque buscando um banheiro para lavar a calça do sujo, que não pára de pedir a calça do outro, que não abre a mão da calça jeans com a qual veio. Cantando a abertura de um desenho infantil, os dois voltam para o carro, dirigem agora em direção ao centro da cidade, deixam o carro na rua, pegam o metro na paulista, um ainda sujo levando o outro pro terminal a qual chegou, agora a conversa não tinha pausas, tinham uma tarde inteira sobre a qual conversar, chegam ao terminal, o dia passara rapido. antes da catraca, do lado de um orelhão, o transporte que levava um para longe ja estava parado a espera de passageiros.

um pedido.
um 'finge-que-não-entendeu'.
um repete o pedido.
um 'estou-pasmo'.
um 'tudo bem então, é que eu pensava q..'.
um beijo.

encabulados se abraçam, agora confortavelmente, e cada um vai pro seu canto.
um atravessa a catraca e entra no onibus, o outro volta a descer pro metro, em direção a cafeteria. um não dormiu aquala noite e o outro acabou não indo dançar aquela noite. esse foi o fim da noite, e o começo do ano pra eles.

• Esse texto é confuso, digamos que é uma piada interna.
xoxo. Gossip Pig and Pepper

Porco e Pimenta: Cosmonauta



Cosmonauta

"Dez!". Pelo objeto que me incomodava as orelhas, ouvia a contagem regressiva mais tensa de toda minha vida, estava eu sentado com os meus vinte e poucos anos, e da janela pessoas acenavam, eu sabia que poderia ser a ultima vez que as veria ali. "Nove!" Me passava na cabeça meus momentos mais dificeis pra sentar naquela cadeira, do meu lado, meu amigo estava chorando. "Oito!". Pela janelinha eu via a minha mãe, e desejava que meu pai estivesse la para me ver, talvez eu o encontrasse, estava indo pro céu. "Sete!" . Todos os botões e todas as funções me davam dor-de-cabeça, o grande e vermelho na emergência, eu sempre ouvira isso nos filmes. "Seis!". Eu sei que eles sentiram a minha falta, sem comunicação terão que ter mais fé em qualquer-coisa. "Cinco!". Não via a hora de sair dali. "Quatro!". O tempo sempre passa mais devagar quanto pensamos nele. "Três!" . Em nome do pai, do filho e do espírito-santo. "Dois!". Amém. "Um!". Adeus pessoas, me desejem Boa Sorte. "Zero!". Foi nesse momento que ouvi o barulho que mais esperei na vida, o fogo saiu da cauda do foguete de modo que fez as coisas vibrarem dentro de mim e talvez do meus parceiro tambem, aos poucos fomos ganhando altura, e quando menos percebi, ja não via mais minha mãe, nem mais ninguem, a pressão em mim parecia me sufocar, e precisei fechar os olhos para não ficar mais nervoso, ainda subindo, sem limites, saímos da atmosfera. Agora tudo mais leve, com excessão do peso na minha conciência, mas eu estava feliz, realmente feliz, teria tudo dado certo? era preciso comunicação com a base, na terra. No instante em que soltei o cinto-de-decolagem, meu sonho de criança se realizou, estava flutuando, era como se os meus inconstantes 70 Kg não importavam mais, eu podia pular e nunca mais voltar ao chão, e no espaço era diferente das máquinas de simulação, ali era real, ali tinha paisagem, e pela primeira vez, ali, de ponta-cabeça no espaço, eu à vi. Linda e gigante, a sua cor pulsante fazia meu coração pulsar junto, a sua imensidão azul me remetia ao tamanho do meu orgulho, ao tamanho da minha saudade, nunca vira imagem tão bonita, o sentimento de estar ali, à vendo, me fez lembrar de minha mãe, e perceber que aquela esfera imensa guardava por mim um carinho, quase que materno, que estava sendo esquecido. Então eu senti um turbilhão de coisas estranhas, sensação parecida à da decolagem, e quando menos percebi, tudo estava em chamas, inclusive meu parceiro, lembrei do botão vermelho, e corri (ainda flutuando) para aperta-lo, ele estava quente, tudo estava errado e se desfazendo, fui empurrado pra fora do foguete. No vácuo, contraditóriamente, minha cabeça nunca esteve tão cheia, ainda via a mãe-Terra, era impossivel não percebe-la, e um estranho medo de altura se apossou de mim, iria morrer. Com a certeza da morte, na minha segunda contagem regressiva. "Dez!". Eu tirei o capacete, iria morrer. "Nove!". A agonia de estar sem ar foi substituida pela alegria de morrer no lugar onde eu mais gostaria de morrer. "Oito!". Meu parceiro ainda estava em chamas, e nada que eu fizesse o ajudaria. "Sete!". A agonia de estar sem ar voltou, meu pulmões agora pediam esmola. "Seis!" Eu me mexia no vácuo, flutuando feito uma pena no ar, era deliciosamente desconfortável. "Cinco!". meus sentidos agora ja estavam perturbados. "Quatro!". A Terra acenava pra mim. "Três!". Nadei, nadei, e morri na praia. "Dois!". Por mais que eu grite, o som não se propaga no vácuo. "Um!". Flutuando, feito eu, eu à vi chegar, lentamente, gelada, me abraçando e me beijando, sugando meu ar, suas mãos brancas, fecharam os meus olhos, seu corpo escorregadio estava sobre e sob o meu, e um fio de medo, de desespero, de prazer correu do alto da minha cabeça até meus pés, por fim levando minha vida. "Zero!"


• Gente, voltei a postar no blog, que diga-se de passagem, está cheio de teias de aranhas e pó para todo o lado, depois da faxina posto outra coisa. Esse meu texto é antigo e postei porque achei que seria legal te-lo por aqui.

xoxo.
Gossip Pig and Pepper