terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Porco e Pimenta: Cosmonauta



Cosmonauta

"Dez!". Pelo objeto que me incomodava as orelhas, ouvia a contagem regressiva mais tensa de toda minha vida, estava eu sentado com os meus vinte e poucos anos, e da janela pessoas acenavam, eu sabia que poderia ser a ultima vez que as veria ali. "Nove!" Me passava na cabeça meus momentos mais dificeis pra sentar naquela cadeira, do meu lado, meu amigo estava chorando. "Oito!". Pela janelinha eu via a minha mãe, e desejava que meu pai estivesse la para me ver, talvez eu o encontrasse, estava indo pro céu. "Sete!" . Todos os botões e todas as funções me davam dor-de-cabeça, o grande e vermelho na emergência, eu sempre ouvira isso nos filmes. "Seis!". Eu sei que eles sentiram a minha falta, sem comunicação terão que ter mais fé em qualquer-coisa. "Cinco!". Não via a hora de sair dali. "Quatro!". O tempo sempre passa mais devagar quanto pensamos nele. "Três!" . Em nome do pai, do filho e do espírito-santo. "Dois!". Amém. "Um!". Adeus pessoas, me desejem Boa Sorte. "Zero!". Foi nesse momento que ouvi o barulho que mais esperei na vida, o fogo saiu da cauda do foguete de modo que fez as coisas vibrarem dentro de mim e talvez do meus parceiro tambem, aos poucos fomos ganhando altura, e quando menos percebi, ja não via mais minha mãe, nem mais ninguem, a pressão em mim parecia me sufocar, e precisei fechar os olhos para não ficar mais nervoso, ainda subindo, sem limites, saímos da atmosfera. Agora tudo mais leve, com excessão do peso na minha conciência, mas eu estava feliz, realmente feliz, teria tudo dado certo? era preciso comunicação com a base, na terra. No instante em que soltei o cinto-de-decolagem, meu sonho de criança se realizou, estava flutuando, era como se os meus inconstantes 70 Kg não importavam mais, eu podia pular e nunca mais voltar ao chão, e no espaço era diferente das máquinas de simulação, ali era real, ali tinha paisagem, e pela primeira vez, ali, de ponta-cabeça no espaço, eu à vi. Linda e gigante, a sua cor pulsante fazia meu coração pulsar junto, a sua imensidão azul me remetia ao tamanho do meu orgulho, ao tamanho da minha saudade, nunca vira imagem tão bonita, o sentimento de estar ali, à vendo, me fez lembrar de minha mãe, e perceber que aquela esfera imensa guardava por mim um carinho, quase que materno, que estava sendo esquecido. Então eu senti um turbilhão de coisas estranhas, sensação parecida à da decolagem, e quando menos percebi, tudo estava em chamas, inclusive meu parceiro, lembrei do botão vermelho, e corri (ainda flutuando) para aperta-lo, ele estava quente, tudo estava errado e se desfazendo, fui empurrado pra fora do foguete. No vácuo, contraditóriamente, minha cabeça nunca esteve tão cheia, ainda via a mãe-Terra, era impossivel não percebe-la, e um estranho medo de altura se apossou de mim, iria morrer. Com a certeza da morte, na minha segunda contagem regressiva. "Dez!". Eu tirei o capacete, iria morrer. "Nove!". A agonia de estar sem ar foi substituida pela alegria de morrer no lugar onde eu mais gostaria de morrer. "Oito!". Meu parceiro ainda estava em chamas, e nada que eu fizesse o ajudaria. "Sete!". A agonia de estar sem ar voltou, meu pulmões agora pediam esmola. "Seis!" Eu me mexia no vácuo, flutuando feito uma pena no ar, era deliciosamente desconfortável. "Cinco!". meus sentidos agora ja estavam perturbados. "Quatro!". A Terra acenava pra mim. "Três!". Nadei, nadei, e morri na praia. "Dois!". Por mais que eu grite, o som não se propaga no vácuo. "Um!". Flutuando, feito eu, eu à vi chegar, lentamente, gelada, me abraçando e me beijando, sugando meu ar, suas mãos brancas, fecharam os meus olhos, seu corpo escorregadio estava sobre e sob o meu, e um fio de medo, de desespero, de prazer correu do alto da minha cabeça até meus pés, por fim levando minha vida. "Zero!"


• Gente, voltei a postar no blog, que diga-se de passagem, está cheio de teias de aranhas e pó para todo o lado, depois da faxina posto outra coisa. Esse meu texto é antigo e postei porque achei que seria legal te-lo por aqui.

xoxo.
Gossip Pig and Pepper

Um comentário:

Anônimo disse...

gostei muito...muito mesmo...passarei sempre!!!
http://www.deusamnemosyne.blogspot.com